quinta-feira, 18 de junho de 2009

Nostalgia

Estava aqui olhando fotos no computador, quando me deparei com uma em particular. Sabe quando você vê uma foto e tudo volta? Os cheiros, as imagens, as texturas? Foi assim quando vi essa aí embaixo.


Essa imagem completa 21 anos agora em 2009. As pessoas nela? Minha avó, a D. Geralda, e meu irmão.

Essa mulher foi uma guerreira. Mãe de nove filhos, sendo que dois deles morreram ainda bebês. Dos sete que viveram, um deles é meu pai. De sete, apenas uma mulher. Eles não eram lá o que se pode chamar de exemplo. Minha tia era mais sossegada. Os irmãos... Não eram tão tranquilos assim. Não eram pessoas ruins, muito pelo contrário, mas eles aprontavam absolutamente tudo, desde andar em cima de ônibus a espiar uma prima tomando banho. Coisas de menino. Mas minha avó criou todos com a mesma dedicação e carinho. Coisas de mãe.

Olhando a foto aí, as primeiras imagens que vem à memória são as de brincadeiras com os primos: a "arrastação" de cadeiras na salinha das samambaias, o enrosca-enrosca nas cortinas (das quais me lembro da textura até hoje), os desenhos na televisão, os roubos de açúcar cristal da despensa, as aventuras até o telhado, as conversas na escadinha para o terraço, as corridas no minúsculo espaço da entrada da casa, os jogos na rua, as histórias mirabolantes sobre monstros que habitavam o quartinho que meu tio usava como ateliê... São tantas as memórias! Depois disso, vem o pão com mortadela de lanche da tarde e o macarrão cheio de molho feito pela vovó (o cheiro era inigualável). A deliciosa rotina culinária de todo santo domingo. A seguir, vem a lembrança das broncas das tias, ou porque estávamos correndo demais, ou fazendo barulho demais, ou vendo televisão perto demais.

Nessa casa da foto é que eu comecei a sonhar em ser alguma coisa na vida. Na época, meu sonho estava mais para sonho mesmo: queria ser Paquita da Xuxa. E um dos meus tios vivia me incentivando. Eu achava isso o máximo! Ele era o meu tio favorito e tudo o que falava para mim era de extrema importância. Até hoje, nos raros encontros que ainda temos, ele pergunta se ainda ensaio para ser Paquita. Coisa de tio.

Falando agora da minha avó... Eu e D. Geralda nunca fomos muito próximas. Ela sempre foi muitíssimo reservada. Nunca entendi os motivos dela e até senti uma certa raiva quando era pequena. Minhas amigas contavam conversas com a avó, os presentes que ganhavam, os colos que recebiam, os doces fora de hora... Essas coisas que só uma avó faz por você. Eu nunca tive isso com ela. Hoje eu entendo que ela me amava e era só questão de jeito de ser. Mas demorou muito para isso acontecer.

As lembranças mais nítidas que tenho dela são dos dias que ela passou na minha casa quando esteve doente. Embora sejam de épocas ruins, essas memórias são boas. Lembro da Cremogema de toda noite e de assistir, de longe, ela e minha mãe em longas conversas. Eram os raros momentos em que eu a via sorrir. Minha avó sempre gostou muito da minha mãe e da dedicação e atenção que ela dava e o sentimento era mútuo.

Minha avó morreu em 1996, no ano em que eu, meu irmão e meus pais mudamos para Belo Horizonte. Não compareci ao velório e nem ao enterro. O que os olhos não vêem o coração não sente? Sente sim... Em menor intensidade, mas sente. Hoje bateu "saudadinha" dela e desse tempo. Uma pena a vida não dar uma chance de revivermos certas coisas...

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